Uso da palavra “Amém”
É incrível como a palavra “Amém”, vem sendo usada de maneira totalmente incorreta em nossas igrejas, chegando mesmo ao ponto do verdadeiro significado desta importante expressão bíblica cair no esquecimento. Vejamos alguns exemplos: “vamos abrir a Palavra de Deus no livro dos Salmos, amém?”, Quem já encontrou o texto diga amém!”. Ou mesmo, quando o pregador ou dirigente do culto saúda a igreja dizendo assim: “Eu quero saudar a igreja com a paz do Senhor, amém?”. Eu já vi até alguns iniciando o culto com a palavra “Amém”. Percebem, que a palavra “amém” está sendo usada em momentos e situações que não caberia ser usada?
Tenho a impressão que a palavra “Amém” tem se tornado um “maneirismo” ou um “chavão evangélico”. Alguns pregadores quando querem saber se a igreja ouviu o que eles acabaram de dizer, eles falam “amém, irmãos?”. Certa vez eu contei 39 améns de um certo pregador numa mesma mensagem, ele falava uma ou duas frases e aplicava mais um “amém, irmãos?”. O Rev. André do Carmo Silvério (pastor da igreja Presbiteriana – Guarulhos SP – Professor de Teologia Sistemática), disse o seguinte sobre o assunto: “Para tudo se usa o amém, mesmo quando não se tem nada para falar e fazer”. Preciso concordar com o Pr. André, que o uso excessivo, fora de contexto, quando não cabe a palavra “Amém” é forçar demais e teológicamente errado.
À luz da Palavra de Deus, qual seria o correto uso desta expressão tão conhecida no meio evangélico?
Na Bíblia, a palavra “Amém” significa “assim seja” ou “é verdade”, e expressa concordância, confirmação, ou fé em algo que foi dito ou realizado. É uma palavra de origem hebraica “Amen”, que transmite a ideia de firmeza, fidelidade e verdade. Em hebraico, a palavra “Amém” está ligada a mesma raiz da palavra “crêr”. Essa raiz expressa solidez, confiabilidade e fidelidade.
“Amém”, também é uma palavra litúrgica de aclamação que significa anuência firme, simbolizando concordância e afirmação da vontade de Deus. O termo “Amém” era usado na adoração corporativa do antigo Israel de duas formas diferentes: Primeiro, serviu como uma resposta ao louvor dado a Deus, e, depois como uma resposta à oração. No aspecto teológico, a palavra “amém” aparece 56 vezes em toda a Bíblia, sendo 28 no V. T. e 28 no N. T. No Antigo Testamento, a palavra hebraica usada é “AMEN”, que expressa uma afirmação certa, em face de algo que foi dito e é usada após o pronunciamento de maldições solenes (Nm 5.22; Dt 27.15) e após orações e hinos de louvor (1Co 16.24; Ne 8.6; Sl 41. 13). Desta forma, há de se perceber que o termo é empregado com a finalidade de confirmar uma verdade e não de indagar sobre algo.
Da mesma forma que no Antigo Testamento, a expressão “Amém”, também é utilizada no Novo Testamento ao final de orações e hinos de louvor (Mt 6.13; Fp 4.20; 1Tm 1.17; Ap 7.12,20), indicando que o termo assim usado em nossas orações deve expressar certeza e segurança no Senhor a quem dirigimos a nossa oração.
Partindo dessa premissa, podemos ver algumas implicações do correto uso da palavra “amém”:
Em primeiro lugar: a palavra “Amém” poderia ser utilizada no término de uma leitura bíblica no culto; em orações cantadas (hinos e cânticos espirituais); orações proferidas por irmãos durante o culto ou reuniões de oração; ao término da mensagem exposta pelo pregador e também ao findar do culto, como por exemplo, o “Amém tríplice”.
Em segundo lugar: o “Amém” só deve ser respondido quando entendemos aquilo que é falado ou cantado. O Apóstolo Paulo exortando a igreja de Corinto diz: (1Co 14.16) “Se você estiver louvando a Deus em espírito, como poderá aquele que está entre os não instruídos dizer o “amém” à sua ação de graças, visto que não sabe o que você está dizendo?”. João Calvino ainda diz que a finalidade de se dizer “Amém” após a oração é indicar publicamente que as orações, feitas por um, eram de fato de todos eles. Portanto, ela indica a confirmação não só daquilo que afirmamos na oração, mas também do que pedimos nela.
Em terceiro lugar: a expressão “Amém” deve ser utilizada sempre como ato afirmativo ou de exclamação (!), nunca de interrogação (?). Das 56 vezes que a palavra “Amém” aparece na Bíblia, 53 são afirmações, como: (Sl 89.52) “Bendito seja o Senhor para sempre! AMÉM e AMÉM”. Ou, (Ap 7.11,12) “Todos os anjos estavam em pé ao redor do trono, dos anciãos e dos quatro seres viventes. Eles se prostraram com o rosto em terra diante do trono e adoraram a Deus, dizendo: “Amém! Louvor e glória, sabedoria, ação de graças, honra, poder e força sejam ao nosso Deus para todo o sempre Amém!”.
Portanto, a palavra “Amém” não é usada para indagar e sim para afirmar. Exemplo disso também nos dá o rei Davi ao dirigir a Deus um Salmo de ações de graças em um culto congregacional: (1Cr 16.36) “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, desde a eternidade até a eternidade. E todo o povo disse: Amém! E louvou ao Senhor”. Dica importante: Espere o povo dizer amém, após a leitura da Palavra, ou quando você saudar a igreja com a paz do Senhor. Não induza ou cobre que as pessoas digam amém – isso é manipulação – O “Amém” deve sair da boca das pessoas espontaneamente). Há ainda, outras expressões encontradas na Bíblia, mas nenhuma delas tem haver com uma interrogação (1Co 14.16; 2Co 1.20 e Ap 3.14). Aliás, neste último texto, João atribui a Jesus a expressão “Amém”, ou seja, aquele que testemunhou verdadeiramente a criação de Deus, Ele é o “Amém”.
Diante daquilo que a Bíblia nos ensina, usar a palavra “Amém” como um “chavão” ou “jargão” é desfocar completamente o seu sentido. Num estudo ou em uma palestra, não há nada de errado em se questionar os ouvintes se eles estão entendendo. Mas, para isso, não é necessário usar o “Amém?”, e sim, o famoso “ok?, ou “tudo bem?”. E se você quer saber se todos abriram a Bíblia ou se encontraram o texto, ao invés do “Amém?”, pergunte: “todos encontraram?”, ou “todos encontraram o texto?”.
Que o Senhor nosso Deus nos abençoe, para que façamos o mais correto uso da expressão bíblica “Amém”. Pr. Manoel Joaquim Filho







